Haemig PD  (2011)  Ecologia do Galo-da-Serra.  ECOLOGIA.INFO 1

Ecologia do Galo-da-Serra

Nota. Esse artigo online é continuamente atualizado e revisado logo que resultados de novas pesquisas científicas tornam-se disponíveis. Portanto, apresenta as últimas informações sobre os tópicos abordados.

O galo-da-serra é um dos pássaros mais espetaculares de todo o mundo. Sua plumagem fantástica e seu cortejo colorido são tão especiais quanto as de qualquer ave do paraíso. Somente duas espécies são conhecidas: (1) o galo-da-serra andino (Rupicola peruviana) e (2) o galo-da-serra-do-pará (Rupicola rupicola).

Ambas as espécies são encontradas somente na área montanhosa do norte da América do Sul. A primeira espécie habita os Andes, desde o sul da Venezuela até a Bolívia, ao passo que a segunda habita na área montanhosa, mais antiga e bastante corroída a leste dos Andes e ao norte do rio Amazonas (isto é, nas Guianas e áreas adjacentes da Venezuela, Brasil e Colômbia).

As duas espécies alimentam-se principalmente de frutas e constróem seus ninhos nas faces rochosas de penhascos, grandes rochas, grutas ou em profundos desfiladeiros. A fêmea constrói o ninho e cria os filhotes sem nenhum apoio  do macho. Em geral, a ninhada é composta de dois ovos.

Os machos adultos despendem grande parte de seu tempo em locais especiais onde têm lugar os cortejos, conhecidos como "leks". Nestes locais eles fazem a defesa do território, cortejam e/ou defendem poleiros próximos dos outros machos. Neste caso, eles se exibem para as fêmeas que visitam o "lek". Em seguida, as  fêmeas selecionam os machos com quem vão seacasalar (Snow, 1982).

O acasalamento e os hábitos quanto aos ninhos dos galos-da-serra aumenta a diversidade das plantas no local

Quando o galo-da-serra come as frutas, ele engole muitas sementes inteiras, a maioria delas não é danificada ao passar pelo sistema digestivo do pássaro. Desta forma, muitas sementes continuam com poder de germinação quando o galo-da-serra as defeca ou regurgita, o que geralmente ocorre a distâncias consideráveis das árvores mães. Assim, o galo-da-serra tem um papel importante na dispersão das sementes de várias espécies de árvores florestais.

Uma vez que o galo-da-serra macho adulto, concentra seu tempo e atividades no "lek", e que a fêmea adulta concentra seu tempo e atividades nas áreas dos penhascos escolhidas para construir os ninhos (onde várias fêmeas constróem ninhos próximos umas das outras) em geral, as sementes são depositadas em "leks" e penhascos).

Por exemplo, em um "lek" dos galos-da-serra-do-pará, na Guiana Francesa, Thery e Larpin (1993) encontraram sementes de 21 espécies de plantas sob os poleiros dos machos. Acredita-se que todas elas tenham sido defecadas ou regurgitadas pelos machos.  Erard et al. (1989) recolheram excrementos encontrados sob 1 ninho de galo-da-serra-do-pará, na Guiana Francesa, e encontrou neles sementes de 52 plantas. Em outra pesquisa, Benalcazar & Benalcazar (1984) recolheram excrementos encontrados debaixo de 7 ninhos de galo-da-serra andino em um local a oeste de Cali, Colômbia, e neles encontrou sementes de, pelo menos, 35 espécies diferentes.

Quando altas densidades de sementes são depositadas desta maneira em "leks" ou em áreas onde os ninhos são construídos , e quando as condições ambientais são favoráveis para a sua germinação e crescimento, a abundância de espécies vegetais que crescem a partir destas sementes pode ser aumentada significativamente nos "leks" e próximo aos ninhos, fazendo com que as comunidades de plantas, nestas áreas, fiquem diferentes das encontradas na floresta ao seu redor.

Por exemplo, no "lek" do galo-da-serra-do-pará, na Guiana Francesa, acima mencionado, onde Thery e Larpin (1993) encontraram sementes de 21 espécies de plantas debaixo dos poleiros dos machos, eles também encontraram evidências de que os machos haviam alterado a diversidade e a abundância de plantas no "lek" através da dispersão de sementes. O "lek" estava localizado no topo de uma escarpada rocha de granito e sua vegetação era significativamente diferente daquela encontrada na floresta em torno da área e em outros topos rochosos próximos. Enquanto a maioria da flora nestes outros locais era bastante homogênea, a vegetação do "lek" era um mosaico de espécies vegetais típicas de comunidades diferentes. Depois de analisar a vegetação do "lek" mais detidamente, Thery e Larpin concluíram que grande parte desta diferença era resultado da dispersão de sementes, que ocorria há um longo tempo, causada pelos galos-da-serra machos.

Na floresta tropical da Guiana Inglesa, Gilliard (1962) encontrou vários mamoeiros (Carica papaya) crescendo na base de uma imensa rocha sobre a qual se encontravam ninhos de fêmeas do galo-da-serra-do-pará. Uma vez que não viu outros mamoeiros na floresta, especulou que as fêmeas do galo-da-serra se alimentariam de papaia em plantações nativas a uma grande distância, regurgitando as sementes nos ninhos posteriormente.

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Fotografia:  Galo-da-Serra-do-Pará (Hugo Viana, Brasil).

 

 

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