Haemig PD (2012Panda Gigante y Panda Vermelho Simpátricos. ECOLOGIA.INFO 4

Panda Gigante e Panda Vermelho Simpátricos

Nota. Esse artigo online é continuamente atualizado e revisado logo que resultados de novas pesquisas científicas tornam-se disponíveis. Portanto, apresenta as últimas informações sobre os tópicos abordados.

O Panda Gigante (Ailuropoda melanoleuca) e o Panda Vermelho (Ailurus fulgens) são membros vegetarianos da ordem Carnivora especializados em comer bambu. As duas espécies diferem grandemente em tamanho: o Panda Gigante pesa de 65 a 110 Kg, enquanto o Panda Vermelho atinge de 3,7 a 6,2 Kg (Johnson et al. 1988; Roberts e Gittleman 1984).  Nas fotografias acima, o panda gigante é exibido no canto superior esquerdo e o panda vermelho, no canto inferior direito. 

Apesar de ambos os pandas serem nativos da Ásia, seus grupos são bem distintos. As duas espécies ocorrem juntas apenas na província chinesa de Sichuan, nas quatro seguintes cadeias de montanhas: Liangshan, Qionglai, Minshan e Xiangling (Wei et al 2000). Nessas montanhas, ambos os pandas compartilham do mesmo habitat e árvores de bambu.

Os ecologistas aplicam o termo simpátrico para descrever a situação em que duas espécies ocorrem na mesma área. A palavra alopatria é usada para descrever a seguinte situação: quando duas espécies ocorrem em áreas geográficas distintas. Nesse artigo, analisaremos estudos sobre o Panda Gigante e o Panda Vermelho simpátricos na província de Sichuan, na China, e resumiremos as diferenças ecológicas entre esses dois especialistas em bambu.

Separação dietética

Ambos os pandas alimentam-se principalmente de bambu durante todo o ano. Ocasionalmente provam outros alimentos, todavia o bambu compreende 99% da dieta do Panda Gigante e 98% da dieta do Panda Vermelho (Wei et al. 1999). Desde meados do verão até outubro, o Panda Vermelho difere do Panda Gigante por adicionar uma variedade de frutas arbóreas à sua dieta, incluindo Prunus, Rubus, Rosa, Sorbus, Ribes e Sabina squamata, um abeto (Wei et al. 1999).

Ambos alimentam-se da mesma espécie de bambu, porém se especializam em comer diferentes partes da planta. O Panda Gigante alimenta-se mais freqüentemente do caule do bambu, enquanto o Panda Vermelho utiliza as folhas (Johnson et al. 1988; Wei et al. 1999). Por exemplo, nas Montanhas Xiangling, Wei et al. (1999) constataram a presença das seguintes partes do bambu na dieta anual de ambas as espécies: Panda Vermelho (90% de folhas, 9% de brotos), Panda Gigante (55% de caule, 35% de folhas, 10% de brotos).

As mandíbulas do Panda Gigante são mais fortemente desenvolvidas do que as do Panda Vermelho, o que está correlacionado às diferenças nas dietas mencionadas no parágrafo anterior. Como o Panda Vermelho é especializado em se alimentar de folhas de bambu, ele não precisa das mandíbulas robustas do Panda Gigante, especializado em comer caules e brotos (Zhang et al. 2007).

Separação do Microhabitat

Comparado aos Pandas Gigantes, os Pandas Vermelhos freqüentam micro-habitats com maior densidade de arbustos, troncos caídos e tocos de árvore (Wei et al., 2000; Zhang et al., 2004). O Panda Vermelho sobe nessas estruturas para alcançar as folhas de bambu que crescem no alto, e come essas folhas retirando-as dos talos com pequenas mordidas (Johnson et al., 1988; Wei, 1999; Zhang et al., 2004).

Em contraste, os Pandas Gigantes arrancam caules inteiros do bambu e os seguram para comer as folhas (Wei et al., 1999). Eles também vergam os caules tenros com a pata dianteira e retiram as folhas da parte superior (Johnson et al., 1988). Nos micro-habitats escolhidos pelo Panda Vermelho, a altura dos bambus é geralmente menor do que nos micro-habitats escolhidos pelo Panda Gigante, aparentemente porque o Panda Vermelho tem mais facilidade para acessar as folhas dos bambus mais baixos (Zhang et al., 2004).

O Panda Gigante freqüenta terrenos mais nivelados, geralmente com uma inclinação inferior a 10-20% (Reid e Hu 1991; Wei et al. 1996, 2000; Zhang et al. 2006; Qi et al. 2009), enquanto o Panda Vermelho percorre locais mais inclinados (Wei et al. 2000; Zhang et al. 2004, 2006; Qi et al. 2009).

A associação do Panda Vermelho com terrenos mais inclinados pode ser explicada por sua preferência por locais com melhor acesso às folhas mais altas do bambu. Wei et al. (2000) observaram que “em terrenos mais inclinados, os arbustos de rododendros possuem galhos mais longos dentro das folhas de bambu, e há maior probabilidade dos troncos caídos interceptarem a camada de folhas”, facilitando o acesso dos Pandas Vermelhos às folhas.

Entretanto, outras explicações também são possíveis. Por exemplo, pelo fato de os Pandas Vermelhos serem menores do que os Pandas Gigantes, eles podem precisar da maior densidade dos arbustos em terrenos mais inclinados para melhor se esconderem dos predadores.  

Por outro lado, alguns pesquisadores acreditam que a preferência do Panda Gigante por inclinações mais suaves baseia-se na conservação de energia. A ingestão de calorias pelo Panda Gigante é somente marginalmente maior que a energia que gasta; portanto, ao evitar aclives íngremes, o animal reduz o gasto de energia (Schaller et al., 1985; Zhang et al., 2004).

Estradas

Os Pandas Gigantes visitam estradas com mais frequência que os Pandas Vermelhos (Qi et al. 2009). Uma possível explicação é que as estradas cortando áreas florestadas aumentam a quantidades de bordas de florestas, o que oferece ao Panda Gigante mais alimentos que o interior das florestas, já que este prefere forragear nas bordas das manchas florestais de bambu (Qi et al. 2003; Schaller et al. 1985; Yu et al. 2003).

Referências

Johnson KG, Schaller GB, Hu J  (1988)  Comparative behavior of Red and Giant Pandas in the Wolong Reserve, China.  Journal of Mammalogy 69: 552-564

Qi D, Hu Y, Gu X, Li M, Wei F  (2009)  Ecological niche modeling of the sympatric giant and red pandas on a mountain-range scale.  Biodiversity and Conservation 18: 2127-2141

Reid DG, Hu J  (1991)  Giant Panda selection between Bashania fangiana bamboo habitats in Wolong Reserve, Sichuan, China.  Journal of Applied Ecology 28: 28-43

Roberts M, Gittleman J  (1984)  Ailurus fulgensMammalian Species 222: 1-8

Schaller G, Hu J, Pan W, Zhu J  (1985)  The Giant Pandas of Wolong.  University of Chicago Press, USA

Wei F, Zhou C, Hu J, Yang G, Wang W  (1996)  Bamboo resources and food selection of Giant Pandas in Mabian Dafengding Natural Reserve.  Acta Theriologica Sinica 16: 171-175 (in Chinese)

Wei F, Feng Z, Wang Z, Li M  (1999)  Feeding strategy and resource partitioning between Giant and Red Pandas.  Mammalia 63: 417-429

Wei F, Feng Z, Wang Z, Hu J  (2000)  Habitat use and separation between the Giant Panda and the Red Panda.  Journal of Mammalogy 81: 448-455

Yu G, Zhang Z, Zhao Z, Wang B, Wang Y  (2003)  Giant Panda feeding: why do they prefer bamboo patch edges?  Journal of Zoology 259: 307-312

Zhang Z, Wei F, Li M, Zhang B, Liu X, Hu J  (2004)  Microhabitat separation during winter among sympatric giant pandas, red pandas, and tufted deer: the effects of diet, body size, and energy metabolism.  Canadian Journal of Zoology 82: 1451-1458

Zhang Z, Wei F, Li M, Hu J  (2006)  Winter microhabitat separation between giant and red pandas in Bashania faberi bamboo forest in Fengtongzhai Nature Reserve.  Journal of Wildlife Management 70: 231-235

Zhang S, Pan R, Li M, Oxnard C, Wei F  (2007)  Mandible of the giant panda (Ailuropoda melanoleuca) compared with other Chinese carnivores: functional adaptation.   Biological Journal of the Linnean Society 92: 449-456

Informações sobre esse Artigo

Esse artigo também está disponível nas seguintes línguas:

espanhol    inglês

Autor: Dr. Paul D. Haemig (PhD em Ecologia Animal) - Ecology Online Sweden. 

Fotógrafos:  Winnie Lee (Canadá) - Panda Gigante;  Steve Mackins (Reino Unido) - Panda Vermelho;  Tracy Zhang (EUA) - bambu;  Harpreet Padam (Índia) - montanhas.

A citação adequada é:

Haemig PD  2012   Panda Gigante e Panda Vermelho Simpátricos. ECOLOGIA.INFO #4

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